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domingo, outubro 07, 2012

Nada

Já não me restam lugares para desabafar, nem pessoa para quem eu possa ligar agora. voltei a me tornar uma ilha, isolada no meio do nada. Cercada de mar tempestuoso e com o coração partido em migalhas, partículas pequenas do que eu fui algum dia.
Algum dia eu sorri, fui feliz e consegui comer normalmente, não que eu me lembre, fazem tantos anos, tanto tempo e as memórias se apagaram. Mas, as fotos permaneceram vivas, retratos de uma época em que podia comer tudo sem me sentir culpada, sem sentir raiva do meu corpo e amedrontada com a ideia de ganhar peso.
Peso, números, medidas, balança, dieta, cortes, machucados, dor, medo, peso. Sempre o peso a afundar me. A me fazer perceber que sou um nada. Um pouco de ossos e pó. Muita sujeira.
Sujeira que invade minha vida, meus pensamentos, tanta vontade para pouca ou quase nenhuma realização. Sonhos perdidos na lata do lixo, em sacos enormes cheios de um vazio existencial.
Sexo, sujo, imoral. Quando penso que seus toques e seu desejo pelo meu corpo foi capaz disso, de destruir a garota inocente que fui um dia. Eu choro. Corro para longe dessas lembranças, desse peso morto em minha vida. Corro para longe de mim, com meus tênis fedorentos, suados, corro para longe da minha vida vazia e fria. Crua.
Corro, e é somente isso que consigo fazer agora, correr. Correr enquanto perco o chão sob meus pés cansados e minha alma ferida.
Não adianta fugir, por mais que eu tente, a dor está dentro de mim. E por mais que eu tente esquecer, aquele dia 30 de outubro ficará gravado e mim, como brase a queimar minha existência.

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