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domingo, outubro 07, 2012

Nada

Já não me restam lugares para desabafar, nem pessoa para quem eu possa ligar agora. voltei a me tornar uma ilha, isolada no meio do nada. Cercada de mar tempestuoso e com o coração partido em migalhas, partículas pequenas do que eu fui algum dia.
Algum dia eu sorri, fui feliz e consegui comer normalmente, não que eu me lembre, fazem tantos anos, tanto tempo e as memórias se apagaram. Mas, as fotos permaneceram vivas, retratos de uma época em que podia comer tudo sem me sentir culpada, sem sentir raiva do meu corpo e amedrontada com a ideia de ganhar peso.
Peso, números, medidas, balança, dieta, cortes, machucados, dor, medo, peso. Sempre o peso a afundar me. A me fazer perceber que sou um nada. Um pouco de ossos e pó. Muita sujeira.
Sujeira que invade minha vida, meus pensamentos, tanta vontade para pouca ou quase nenhuma realização. Sonhos perdidos na lata do lixo, em sacos enormes cheios de um vazio existencial.
Sexo, sujo, imoral. Quando penso que seus toques e seu desejo pelo meu corpo foi capaz disso, de destruir a garota inocente que fui um dia. Eu choro. Corro para longe dessas lembranças, desse peso morto em minha vida. Corro para longe de mim, com meus tênis fedorentos, suados, corro para longe da minha vida vazia e fria. Crua.
Corro, e é somente isso que consigo fazer agora, correr. Correr enquanto perco o chão sob meus pés cansados e minha alma ferida.
Não adianta fugir, por mais que eu tente, a dor está dentro de mim. E por mais que eu tente esquecer, aquele dia 30 de outubro ficará gravado e mim, como brase a queimar minha existência.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Nascer de uma amizade



Parte 13 do livro " O espelho de Alice B."

Naquele primeiro dia, quando acordou, Alice percebeu que ganhara uma amiga, que iria mudar muito sua percepção sobre os seres humanos, amizade e amor.

Quando acordei, vi que ela segurava minha mão, eu estava com outro vestido, um verde bem claro, estava com uma calcinha muito bonita e absorventes, Uma delas havia me trocado enquanto eu dormir. Mas, o mais importante para mim naquele momento, era que Carol segurava minha mão. Ela cumpriu a promessa de ficar ao meu lado.
Tentei me levantar sem acordá-la, mas, assim que coloquei os pés no chão, ela abriu os olhos e me chamou. Eu respondi que precisava ir ao banheiro, ela me levou e ficou me esperando. Depois, ainda sonolenta, lavou seu rosto e me levou á cozinha, onde vi que eram 2:58 da manhã.
Ela esquentou uma sopa e comeu junto comigo, lentamente, fui mastigando a sopa, com medo daquela ser minha ultima refeição e com cuidado para não passar mal novamente. Comemos, depois, nos sentamos no sofá, eu estava assustada ainda, era algo muito diferente do que eu estava acostumada a viver.
Aos poucos, fui conseguindo conversar com ela, contar um pouco da minha história. Ela me ajudou a tomar outro banho, e a deixei cuidar de alguns dos meus machucados.
Seus pais me deixaram ir ficando lá por algum tempo, e com o passar dos dias, consegui mostrar meus diários para Carol, e ela se mostrava cada dia mais interessada em me ajudar a fugir de quem me fazia muito mal por anos. A primeira semana foi difícil, por eu ter muitos hábitos ruins e estranhos. Eu dormia pouco, pois, acordava assustada e pensando em fugir. Não conseguia dormir sozinha, tinha de ter ela ao meu lado, mesmo de dia. Eles se revezavam para ficar ao meu lado, para me dar banho e me ajudar a comer.
Nessa época eu emagreci mais ainda, e passei por uma época que eu não conseguia andar, e precisava de ajuda para me vestir, comer, tomar banho. Eu ficava na cama o dia inteiro.
E assustava a todos, com minhas histórias, minha linguagem de bandido, meus pensamentos sobre dor e morte. Carol era quem mais me entendia, e me ajudava, mas, sua mãe e seu pai também se esforçavam muito, e só seus irmãos que eu pedi para não ter contato muito próximo, pois, eu tinha medo, apesar de dizerem que nunca me fariam mal.
A família queria muito me levar ao hospital, e eu relutava constantemente. No entanto, lá pela terceira semana, fui obrigada a aceitar ajuda médica, pois, havia parado de andar e agora, meu organismo formava hematomas e calombos em todo meu corpo.
Não deixei que me levassem ao hospital, mas, permiti que no máximo duas médicas fosse me atender. Primeiro, pedi que Carol e sua mãe ficassem juntas comigo no quarto. Depois, pedi que não me deixassem ficar nua, mas, isso, não pode acontecer, pois me explicaram que minha situação íntima estava ruim, aqueles pontos mal feitos estavam infeccionados e eu precisava mostrar para a médica e contar minha história.
E assim, começaram a procurar por uma médica capaz de curar meus ferimentos sem me entregar aos meus agozes, sem enlouquecer com minha história e ética o suficiente para ambos.

terça-feira, setembro 25, 2012

Carolina



Cap 12 da Web

Carolina.
Esse era o nome da anjinha da guarda que ajudou Alice naquele e em tantos outros dias.

Depois que fugi, acabei desmaiando em frente ao mercado da família de Carol, uma garota de ouro. Com um coração maravilhoso e que me ensinou a sorrir e a viver. Foi com ela que aprendi palavras novas, e por causa dela, eu consegui vencer meus problemas, como as drogas.
Quando a vi naquele dia, eu não tive tempo de olhar direito para ela, apenas olhei teus olhos e fechei os meus. Fiquei alguns minutos desacordada, o suficiente para entrar no mercado deles e evitar ser encontrada na rua pelo meu tio.Fiquei desacordada tempo suficiente para ela chamar seus pais e me levarem para dentro do mercado, e acordei antes que eles tivessem tempo de me levar ao hospital ou chamar uma ambulância. Se isso tivesse acontecido, talvez eu não pudesse hoje, escrever minha história.
Acordei e levantei tão rápido que quase desmaiei novamente. Carol me deitou em um sofá e ficou falando comigo, me acalmando. Seu pai não estava na sala, e sua mãe procurava roupas para me vestir. Depois que me ajudaram a entrar em um vestido amarelo, chamaram seu Joaquim, o pai de Carol e marido de dona Joana. Ele foi um pouco estúpido comigo, perguntou se eu estava bem, mas, deixando claro que não me queria ali.
Eu respondi que estava melhor e agradeci pela ajuda e por terem me vestido. Mal terminei de falar e comecei a chorar. Já fazia anos que tinha aprendido a controlar o choro, mas, ali, me senti indefesa, não como se eles pudessem me abusar, mas, de forma que eu dependia deles, pois, precisava de ajuda e não parecia que iria conseguir.
Dona joana sentou se perto de mim e segurando minhas mãos, foi me perguntando meu nome, e o que eu fazia aquela hora na rua. Já estava quase amanhecendo. Respondi que me chamava Alice e que estava fugindo de uma casa onde me maltratavam. Não poderia dizer muito mais que isso naquele momento, pois, eu não podia confiar muito em alguém, e se fossem parentes dele, ou se o pai de Carol participasse das festas? Não teria como eu saber em poucos minutos.
Seu Joaquim perguntou se eu era garota de programa, e eu disse que não. Ele então perguntou porque eu estava nua, e eu caí novamente no choro. Sua esposa o chamou a atenção e o levou para fora da sala, então, Carol ficou ali, me olhando chorar. Quando voltaram, perguntaram se eu estava com fome, e me deram um pão com leite para comer, depois, trouxeram mais leite e dona Joana me perguntou se eu estava machucada.
Fiquei em silêncio, e ela disse que me levariam ao hospital, assim que seus outros dois filhos chegassem para abrir o mercado e ficar ali enquanto eles me acompanhavam. Eu dei um grito e implorei para não me levarem ao hospital, eu tinha muito medo de ser costurada novamente ou pior, do médico que me costurava estar lá naquele momento e avisar meu tio de onde eu estava.
Pedi que me deixassem ir embora e disseram que não poderiam me abandonar sozinha na rua, que eu estava muito magra e que precisava de cuidados médicos. Eu disse que sim, concordava, mas, que não poderia ir á hospitais. Então, Carol me perguntou se eu aceitava dormir um pouco, e eu disse que tinha medo de meu tio me encontrar. Ela então prometeu que não sairia do meu lado, e eu aceitei. Estava muito fraca e cansada.
Antes de aceitar completamente, me trouxeram mais leite, e eu vomitei aquele e o anterior, pois meu corpo não estava acostumado á tanta comida ao mesmo tempo.
Os dois jovens chegaram, e o trio me levou á sua casa, o caminho todo eu fui abaixada dentro do carro, tremendo de medo de ser vista, e eles ficaram um pouco assustados comigo, mas, aceitaram me ajudar pelo que percebi. Carol me ajudou no banho, pois eu estava fraca demais e desmaiei umas 3x depois daquele primeiro desmaio. Depois do banho, já vestida, me deram um pouco de pão, que comi bem vagarosamente para não vomitar. Fomos então ao quarto de Carol, onde tinha uma cama linda de casal, e o quarto era em tons de azul, que eu achei lindo. Nunca tinha visto um quarto de verdade, a não ser o o meu tio.
Relutei em me deitar, mas meu corpo estava muito cansado então aceitei. Não consegui dormir, apenas alguns breves cochilos com pesadelos. Foi então que me deram um pouco de água que depois fui saber, tinha calmante junto, aí eu consegui dormir mais que um dia inteiro.
Acordei e já estava com outra roupa e absorvente, eu estava sangrando ainda. Abri os olhos e vi ela ali, deitada ao meu lado, ainda segurando minha mão. Era noite, estava tudo escuro, já deveria ter passado aquele dia, começado e terminado outro e eu ali dormindo, enquanto me caçavam viva ou morta.
E graças ao meu trio de anjos eu continuava viva, só com uma alma morta, mas, ainda assim viva.


sexta-feira, setembro 21, 2012

Mais sobre mim. Dani ( editado )

Nasci no dia 25 de novembro, e como boa sargitariana de 21 anos, não costumo levar desaforo para cara e tenho um lado mais estúpido, que, com o tempo aprendi a controlar e hoje, não é meu lado mais mostrado. Guardo meus pulsos apenas para o final, tipo uma saída de emergência.
Me sinto uma garota de vidro, presa entre a ilusão e a realidade. Talvez seja aquilo que chamam de bipolaridade, dualidade, não sei. Sou meu yin e yang, Meus opostos que em algum momento se tornam iguais.
Leio menos do que lia antes de me mudar em mim, gosto de maquiagens, já tive 2 mil esmaltes, hoje, coleciono sombras, embora ainda não saiba me maquiar. Tenho unhas médias, e língua afiada. Olhos bonitos, castanhos, e o apelido de mel.
Tenho o vício de pintar os cabelos que coro sozinha, com minha tesoura amiga, a mesma que uso para cortar meu corpo. Auto mutilação. Queria tanto ficar apenas nos cabelos, e nunca precisar cortar meu corpo para aliviar a dor na alma.

Por hoje é isso, mas, ainda vou editar essa postagem e postar mais.

Voltei.

Adoro fazer artesanato, com tecido, com madeira, bordados, roupinhas para bonecas. Por falar em bonecas, tenho três, duas livs e uma suzi, que eu pintei o cabelo com o tom de ruivo que eu usava.
Já contei que todo mês eu pinto meus cabelos com uma cor diferente? Já foram loiros, ruivos, laranja, preto, vários tons de castanhos. Esse mês, depois de muito tempo, voltei á cor original, castanho escuro. E vou tentar ficar até o final do ano com esse tom.

Sou briguenta feito sei lá o que, ontem perdi amigos, que logo vou aprender a esquecer. Sei que não, mas, não acho que eu esteja errada sozinha, fui provocada e respondi, um pouco alterada demais. Enfim. A vida tem de continuar, eu acho.

A grande corrida



Cap 11 da web

E Alice finalmente fugiu de sua prisão domiciliar

Estava escuro ainda quando cheguei á cidade, nua, na madrugada, não sabia o que fazer. Pensei em pedir ajuda, mas, eu não conseguia simplesmente bater na porta de uma casa, não nua.
Eu tinha tanto medo de voltar a ser estuprada que simplesmente não consegui agir da maneira certa, pedindo ajuda.
Quando cansei de correr, eu já estava longe, mas, meu corpo inteiro doía e eu sangrava muito, Meu corpo estava muito frágil e eu nunca havia sido preparada fisicamente para tanto esforço. Eu continuava abaixo dos 30 kilos.
Parei perto de uma casa e sentei na calçada fria. Estava escuro e eu precisava de roupas. Fiquei esperando aparecer alguém, ninguém apareceu. Foi aí que vi uma mulher sendo deixada por um carro. Suas roupas logo me revelaram que era uma prostituta. Corri lhe pedir ajuda, pensando que ela pudesse me ajudar.
Assim que cheguei ela se assustou, talvez pela minha aparência, magra, careca, cheia de hematomas pelo corpo, cicatrizes e cortes. Mas, logo ela me disse que eu não poderia ficar ali que eu iria atrapalhar o trabalho dela. Ela nem me deixou explicar minha história. Disse que já imaginava de quem eu era sobrinha por causa das festas que contei.
MariJoana era seu nome, ela me deu duas trocas de roupas e me levou até um beco, onde disse que eu conseguiria dormir um pouco.
Deitei e rapidamente dormi, pois, estava exausta. Estava com um vestido curtinho preto, já meio surrado e shorts de lycra laranja. Sem calcinhas, ou sutiã.

Essa primeira noite após sua fuga estava longe de acabar.
Fui acordada com gritos de um homem, antes mesmo de abrir os olhos já consegui me ver levando tiros ou sendo espancada até a morte, pois, imaginei que eu tio ou seus capangas deveriam ter me achado.
Não era ele. Era o cafetão de MariJoana querendo saber quem era a novata, que para ele, era mais uma prostituta. Eu levantei rapidamente e tentei fugir, mas, ele era forte demais e eu não consegui dar 2 passos.
Eu estava numa desvantagem enorme, além de negro, alto e forte, ele era bem maior que eu e era homem. Além de que eu estava muito cansada e fraca pois ja fazia mais de um dia que não me alimentava e havia corrido muito para chegar até ali.
Ele disse que eu só poderia usar aquele espaço se fosse uma das putas dele, e eu expliquei que MariJoana havia me deixado ficar ali pois eu estava fugindo e precisava de ajuda. Ele continuou falando como se eu fosse mais uma garota de programa, como se eu tivesse fugido de um cafetão.
Eu tentei explicar, mas, ele estava furioso comigo e não me deixava falar. Ele foi me despindo ali mesmo na rua e mais uma vez, eu desejei estar morta.
Eu havia fugido de meus abusadores e havia encontrado outro, que poderia muito bem me fazer de escrava sexual e eu não conseguiria fugir tão cedo.
Tive sorte que ele disse que não iria arrumar confusão com outro cafetão por causa de uma menina fraca que mal conseguia ficar acordada durante o sexo, desmaiei muitas vezes enquanto ele entrava e saia de mim.
Ele me liberou aos gritos e mandou eu correr com todas as forças que eu não tinha mais. Eu andei cambaleante até chegar á um mercado que estava fechado.
Ao chegar, nua novamente, pois o cafetão havia me tomado as roupas, um homem chegou me perguntando quanto era o programa, e eu que já não tinha forças, disse que não fazia, e ele foi me pegando á força para me forçar a fazer sexo com ele.
Eu começei a gritar e a correr e cai no chão, bem na porta desse mercado. Não me lembro de muito antes de apagar, lembro apenas que vi abrindo a porta do mercado uma garota que deveria ser pouco mais velha que eu.
Finalmente deus havia atendido meu pedido e me enviado um anjo, mas, de carne, osso e um coração espetacular.

terça-feira, setembro 18, 2012

Ação e reação



Capítulo 10 do livro O espelho de Alice B.

18. Setembro. 2000.

Alice iniciou um novo dia, talvez, um dia decisivo em sua via. Ela finalmente havia completado 18 anos e tentaria fugir. Será que ela conseguiu?

Já fazia meses que ela estava planejando finalmente fugir, e aquele era o dia que ela havia decidido. Pois seria dois dias depois de uma festa, e ela estaria mais debilitada. Mas, também era a oportunidade certa, pois, sempre nos dias seguintes ás festas minha vigilância era menor, justamente por ela estar sempre desacordada.
Na sexta foi a tal "festa" e quando saiu de lá, ela havia conseguido ficar relativamente bem, estava viva, muito fraca, mas, os pensamentos a mil, ela precisava fugir. Já tinha aguentado 18 anos naquela vida. E ela sabia que com 18 anos eu tinha menos defesas que antes e eu precisava sair dali logo antes que seu corpo parasse de vez.
Cada dia mais magra e mais focada em desaparecer daquele lugar, antes que ela não conseguisse mais fugir, nem andar ou correr. E ela precisaria correr.
O sábado passou e finalmente chegou o domingo. Ela ainda estava deitada, devia ser umas 2 da manhã quando decidiu sair. Ela estava nua, toda cheia de costuras mal feitas pela noite anterior, mas, ela precisava fugir naquele dia. E assim ela tentou novamente sair daquele mundo nefasto.


Quando finalmente o domingo chegou, eu estava com tanta vontade e determinação em fugir, que superei minhas limitações físicas e a dor terrível que estava sentindo, e me levantei. Consegui me levantar e procurar minhas roupas, coloquei todas em um saco de supermercado e fui em direção á porta. Era de madrugada e todos dormiam, menos eu. Eu sabia que seria muito difícil sair da casa, e que provavelmente seria pega e morta, mas, eu precisava tentar.
Meu corpo estava magro e fraco demais, e talvez, essa fosse minha ultima tentativa antes de morrer pelo baixo peso.
Abri a porta o mais leve que pude e saí. Andei o longo corredor até chegar até o espelho, que escondia a entrada do corredor que levava ao porão, onde eu era feita prisioneira. Empurrei o espelho já esperando que os monstros ouvissem e me batessem até a morte. Eu só queria morrer mesmo, já me sentia uma morta viva naquela situação.
Olhei pelo quarto e o vi deitado, com algumas prostitutas na cama. Eu peguei a mochila de dentro do corredor, e caminhei lentamente e silenciosamente pelo quarto. Cheguei até a sala, e vi no final dela á porta para a rua. Eu estava apenas com um vestidinho surrado e curto, sabia dos riscos que corria ao sair lá fora assim, qualquer um poderia querer se aproveitar de mim, ou eu ser reconhecida pelos amigos dele. Eu esperava somente o pior, se desse certo, seria um lucro.
Quando estava quase abrindo a porta da sala, que dava para minha liberdade, eu ouvi um barulho. Gelei. Quando me virei, vi ele levantando da cama. Não pensei duas vezes. Girei a chave e comecei a correr.
Eu estava fraca e não aguentei correr muito, a casa inteira se iluminou e eu me escondi no jardim da casa vizinha. Assim que vi ele sair da casa, corri até o portão da vizinha, tirei meu vestido e o pendurei ali, e no muro, coloquei a mochila. Preferi fugir nua e sem roupas do que ser encontrada. Corri para o lado oposto.

Corri como se dependesse daquela corrida para continuar viva. E dependia.

sábado, setembro 15, 2012

Alimentando a alma


Capítulo 9 do livro O espelho de Alice B.

Matar um homem foi um episódio muito ruim da vida de nossa sobrevivente. Seu tio já não sentia se mal após fazer isso, mas ela, uma garota somente, teve de aprender a conviver com o fantasma do morte, que por longos anos a perseguiu.

Hoje, anos depois, sei que não tive escolha, ou eu o matava ou morria, embora ás vezes me pego com o pensamento de que mesmo que eu não matasse aquele homem, eu não seria morta. E isso me faz sentir culpada pelo que fiz.
Já fazem alguns anos que os pesadelos pararam, mas, logo que aconteceu, eu sonhava com o rosto dele coberto por um capuz, ali, deitado, sem saber, já esperando a morte.
Eu não sabia atirar, apenas o básico visto na televisão. Foram 3 tiros mas após o terceiro eu apaguei, e não sei se continuaram atirando por mim, imagino que não.
Quando acordei ele já não estava mais perto de mim, eu estava novamente no meu quarto escondido atrás daquele velho espelho. Deitada na cama, onde permaneci deitada por dias, sem conseguir comer, nem me banhar.
Meu corpo foi definhando, minha mente parecia estar em outro lugar, longe dali, somente eu e aquele homem. Eu não sei meu peso antes disso, mas, minhas roupas não cabiam mais, e tiveram que me dar outras roupas, de quando eu ainda tinha meus 6/7 anos. Eu passei a pesar menos que 30 kilos e continuei nesse estado de magreza até meus 18 anos.
Depois, fui saber que naquela época eu tinha adquirindo anorexia nervosa, uma doença que por mais magra que a pessoa esteja, ela continua se vendo da forma como estava ou maior ainda.
Eu comia pouco, meu peso continuava bem baixo. Mas, naquela época eu não tinha uma relação com o espelho, nunca me olhava em um, apenas, nas raras vezes em que saía do quarto. E mesmo assim, eu evitava me olhar, por causa das cicatrizes e machucados. Eu me sentia uma miniatura de monstro, deformada, ossuda, praticamente careca de tanto que me cortavam os cabelos por causa dos piolhos. Eu tomava banho a cada 2, 3 dias, pois, quando eu não esquecia, ele não lembrava que eu precisava tomar banho . Ou eu estava de castigo e tinha de ficar suja por dias. Magra e suja.
Em relação á vomitar a comida, eu fazia isso sem pensar, mas, quando sentia muita dor ou estava muito deprimida. No começo eu forçava o vômito quando queria ficar em paz, pois ficava fraca e desmaiava, mas, depois, comecei a usar como fuga emocional, se estava ruim emocionalmente eu ia e forçava o vômito.
Eu não somente vomitava os alimentos, mas, era como se vomitasse também a minha alma.

quarta-feira, setembro 12, 2012

Deformações, morte e cicatrizes




Cap 8 do livro O espelho de Alice B.

Alice foi a escola apenas um dia, no entanto, enquanto ainda era criança aprendeu a escrever,
e embora, não tenha frequentado nenhuma escola, ela conseguiu ler seu primeiro livro, depois o segundo, outro, e mais alguns, e assim seguia seus dias, deitada, e enquanto esperava seu corpo se curar dos machucados vindos dos estupros espancamentos, mergulhava no mundo dos livros e assim ela foi princesa, guerreira, marinheira e em seus mergulhos na leitura, conseguiu ser uma pessoa feliz, livre dos monstros que enfrentava diariamente.
Seu tio todos os sábados levava alguns amigos para uma noite regada á álcool, jogos e muitos abusos em Alice. Um desses monstros era um médico e depois de cada orgia, ele levava alguns instrumentos cirúrgicos e apesar de bêbado e algumas vezes drogado, ele costurava nossa pequena. Que a cada dia ia ficando com suas genitálias, seios, deformados.
Um dia, numa das "festas" em que era forçada a ser a degustação de pervertidos, ela teve seus lábios vaginais queimados, e esse vulgo médico tentou arrumar, e acabou ficando pior.
Ela sentia muita dor quando era abusada e quando lhe queimaram, ela pediu para que a matassem. Suas lágrimas saíram aos montes, um choro talvez guardado por anos.
Mas, o pior de tudo, é que mesmo a dor física sendo tão grande e forte, a dor que sentia em sua alma conseguia ser muito maior. Seu espírito já estava morto á muitos anos, sua alma estava triste, e ela, apenas uma garota de 14, 15 anos, já não conseguia imaginar algum dia escapando daquela vida terrível.
E ela não imaginava que algo bem ruim iria acontecer. Seu tio um dia, ainda iria obrigá-la á coisas que nem o diabo acreditaria se lhe fosse contado.

Não consigo escrever, esses dias ele me deu uma alternativa que eu não consegui escapar. Tive de fazer algo que tremo apenas de pensar, algo errado, um crime.
Eu estava deitada lendo, quando ele abriu a porta. Levantei na hora, quase correndo para implorar não ser abusada novamente, pois, meu corpo ainda doía inteiro e eu sabia que as costuras mão estavam cicatrizadas, pois, quando me deitei estava sangrando ainda.
Ele me disse que não era sábado e que hoje ele me liberaria se eu fizesse algo por ele, e eu disse que tudo bem, qualquer coisa seria menos pior que ser abusada naquele dia. Eu estava errada.
Ele me amarrou e fechou meus olhos e boca, quando fazia isso significava que iríamos sair de casa para as festas, eu gelei, a última tinha ocorrido há uma semana apenas, meu corpo, e minha mente não iriam aguentar mais uma humilhação e abusos durante dois ou três dias, já que ele disse que não era sábado, deveria ser sexta feira.
Ele continuava me dizendo que não iria ser abusada, mas, eu não conseguia acreditar nele, não mais. Depois de anos eu sabia que ele mentia sempre, em tudo.
Mas, naquele dia ele não estava mentindo. Eu não seria abusada, apenas, seria obrigada a fazer algo pior.
Chegamos ao local e ele parou o carro, quando abriu meus olhos, eu vi um homem deitado, da mesma forma que eu, fiquei imaginando o que deveria acontecer ali.
Pensei em quase tudo, menos no que de fato aconteceu.
Ele me deu uma arma e mandou eu atirar no homem. Eu disse que não. Tapa na cara. Não. Soco no estômago. Não. Soco no olho. Não. Soco. Não. Ele apontou a arma para mim, bem no meio de meus olhos. Eu chorava tanto que não sei como consegui pegar a arma e atirar.
Choro. Tiro. Grito. Tiro. Morte. Desmaio.

Essa é uma cicatriz que nunca vai curar. O dia em que uma garota morta matou.

domingo, setembro 09, 2012

Mamãe sei me maquiar


Não. Definitivamente não.
Eu sempre me deixo mais branca que o normal.
Pele amarela é fogo.
Vejam as fotos que tirei e as fotos das maquiagens que tenho.












sábado, setembro 08, 2012

Fuga




Cap 7 da Web/Livro O espelho de Alice B.

Depois que Clara morreu ali ao seu lado, nossa jovem garota viu que talvez, com muita esperteza, poderia vencer seu tio e fugir para um mundo melhor.
Um mundo que ela nem tinha certeza de que existia, mas, tinha plena convicção de que precisava ao menos tentar conhecer.
E assim, aos 15 anos, nossa heroína tentou sua primeira fuga. Que, não somente não deu certo, como o pagamento pela sua estupidez foi maior do que poderia imaginar.

Tentei fugir e ele percebeu, nem lembro o que fiz, estava drogada, pensei muito no que Clara me disse e tentei fugir enquanto ele estava chapado, mas, eu não percebi que drogada eu fico mais fraca e que ele fica de qualquer forma, mais forte que eu.

Eu lembro da primeira tentativa de fuga, eu havia sido abusada na noite anterior, que hoje, percebo, seria um sábado, então era um domingo quando tentei fugir. Aos sábados eu sempre recebia visitas indesejáveis dos amigos dele, um bando de homens que se achavam superiores em seus cargos de confiança.
Ele estava se drogando, e pedi para que me desse um pouco de "xyz" para que as dores dos abusos diminuíssem. Eu não imaginei que drogada meu senso de direção ficasse mais comprometido. Eu precisava de um pretexto, uma desculpa para que ele entrasse no quarto e eu tivesse uma chance de bater nele e fugir.
Ele foi mais esperto, me disse que entregaria a droga nas minhas mãos, e quando fui pegá-la, ele aplicou uma injeção contendo outra droga mais forte. Eu até tentei reagir e bater nele, mas, ele foi mais esperto e acabei apanhando tanto que por mais de 1 ano não tentei fugir novamente.

Quebraram meu braço depois da primeira tentativa, não lembro se fui abusada enquanto apanhava, lembro dele me chamando de burra e ligando para alguém, pedindo que me matassem. A pessoa acho que nunca apareceu, pois, continuei apanhando, ouvindo que nunca fugiria e que eu nunca seria livre, pois, eu era toda dele e sempre seria a sobrinha do tio malvado, e que ele só queria meu bem e que eu sempre estaria perto dele mesmo que não quisesse.

As palavras dele foram bem mais amenas que as minhas acima, ele dizia de uma forma que eu me senti culpada por tentar sair de perto dele. Nessa época, eu me sentia responsável pelos abusos, eu achava que de alguma forma eu era responsável por tudo que me acontecia. Que ele tentava me proteger daquela forma e que me amava do jeito louco dele.

Se era amor? Não! Era uma doença na cabeça dele que o dizia que eu deveria ser abusada para que soubesse que precisava dele. Ele, em sua mente fria e sórdida, me amava e precisava de mim ao seu lado, mesmo que á força.

Depois daquela primeira tentativa, eu me senti fraca, tão fraca e sem vontade de nada que parei de comer o pouco que me ofereciam. Eu já me sentia morta e implorava aos abusadores que me atassem, mas, eles nunca matariam um corpo que poderiam ter sempre que desejassem, mesmo esse corpo sendo o de uma garota de 15 anos já morta por dentro.
Me mandem uma foto para ilustrar esse capítulo
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