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segunda-feira, julho 04, 2011

A cortesã

Tudo esta calmo, até que repentinamente todas as coisas começam a sair do lugar, ouço vidros se quebrando, luzes piscando. Quando eu penso que é meu fim, vejo uma luz forte vindo em minha direção, cada vez mais perto.
Acordo assustada, abro os olhos lentamente, não sei onde estou. Procuro me acostumar com a penumbra, tudo está escuro e acho que estou sozinha.
Minha mente esta confusa, tudo gira em um movimento descoordenado, o cheiro forte do ambiente se mistura com luzes brilhantes dançando á minha frente e me fazem mergulhar nas lembranças da noite passada.
Vejo um lugar soturno, sombrio, sinto aquele cheiro forte e olho para os lados, o cheio é uma mistura de drogas que pessoas desconhecidas estão usando naquele lugar.
Não consigo me ver, tudo vai ficando escuro, sinto novamente aquele cheiro forte e volto a mim, naquele quarto sozinha.
Sinto dores no estomago, meu corpo é tomado por uma forte ânsia terrível, tento me levantar mas não consigo, o vomito não espera e vem á tona junto com um choro desesperado.
Ainda tremendo e chorando, consigo chegar a porta desse quarto escuro e acendo a luz. A claridade me deixa ainda mais zonza, aos poucos meus olhos se acostumam e consigo abra-los.
Vejo muitas caixas, um colchão sujo no chão, bem no meio desse quarto, vejo minhas roupas rasgadas jogadas em um canto.
Cambaleando pelo quarto acho um espelho, chego perto dele e me assusto quando vejo a pessoa que me tornei. Sou tomada por uma dor profunda, desespero e angustia.
O espelho me revela um corpo pálido, esquelético e cheio de marcas dos anos como cortesã, drogas e sangue. Vi um rosto frio, vazio de sentimentos, rosto de uma cortesã maltratada por si, por todos e pela vida.
Procuro um pano e começo a limpar o sangue, sujeira exterior. Depois de aparentemente limpa, visto o que sobrou de minhas roupas, um short rascado e um top já sem brilho.
Sinto frio, mas já me acostumei com ele. Olho novamente o quarto, a procura de uma seringa, ou aquele pó mágico, capaz de me fazer esquecer tudo, todos e até o frio quando tenho ele em meu sangue.
Atravesso o quarto descalça, chego ao banheiro e me deparo com muito sangue no chão, muito vomito misturado. Meu estomago não agüenta e se desfaz, ajudando a completar aquela cena deplorável.
Volto para o quarto e tento abrir a porta, está trancada. Como não tenho nada a fazer, me deito no colchão e começo a lembrar de minha infância.
Filha de cortesã, sem pai, dada a uma estranha que em dois dias me devolveu. Mudando de casa constantemente, cresceu triste e arredia. Aos 13 anos conheci a dor do primeiro estupro, força, dor, raiva e novamente a revolta.
No mesmo ano encontrei abrigo nas pílulas mágicas, no sexo desenfreado achei atenção que precisava, logo veio o convite, sexo e grana juntos, a gloria? Não, o inicio do fim.
Fui afundando cada vez mais na lama, me tornando cada vez mais suja, um verdadeiro lixo.
As lembranças cortavam meu coração, mas nem tive tempo para pensar nessa dor. A porta do quarto se abriu, um homem de aparência formal entrou. Me levantei e antes que pudesse dar um passo, ele começou a gritar:
- NÃO MANDEI VOCE SE LEVANTAR, SUA VADIA!!!
PORQUE ESTÁ VESTIDA? ACHA QUE DEIXAREI VOCE SAIR DAQUI TÃO CEDO?
Fiquei parada, imóvel. Consegui perguntar quem ele era, minha voz estava baixa e fraca. Eu estava com muito medo dele, aquele homem que dava pavor, mas eu não me lembrava dele.
- NÃO SE LEMBRA DE MIM? SUA NOJENTA, INÚTIL, NÃO SE LEMBRA DO QUE ME FEZ NOITE PASSADA/
Aos gritos ele me disse que eu estava muito louca, e que roubei uma quantidade enorme de crack de um dos empregados dele.
Fiquei chocada com aquilo, mas ainda tinha mais, ele continuou dizendo que ele havia me seqüestrado e que eu pagaria com meus serviços.
Ele disse que eu seria a cortesã particular dele, mas que ele não me pagaria nada, e que se eu errasse em alguma coisa, eu pagaria com meu sangue e com minha vida.
Não tive tempo de reagir, ele ordenou que eu me despisse e que deitasse nua naquela cama. Comecei a chorar loucamente enquanto ele gritava:
- CALA BOCA SUA VADIA, FAÇA LOGO O QUE MANDEI. NÃO QUIS SER A GOSTOSONA ME ROUBANDO? AGORA AGUENTA, CALA A BOCA E NÃO RECLAMA.
Engoli meu choro, fiz o que ele mandou, pensei que se eu obedecesse aquilo acabaria logo, mas não foi bem assim.
Ele fez tudo que quis comigo. Houve um momento que dei um grito de dor, ele se irritou e me virou um tapa no rosto, me senti humilhada, ainda mais quando vi que tinha sangue escorrendo por todo meu rosto.
Quando ele se satisfez, saiu sorridente, enquanto eu fiquei ali, suja, arrasada, humilhada, faminta e confusa, sem vontade de viver e tentando me lembrar quem era aquele homem cruel.
Forcei a memória e lembrei exatamente o que aquele homem falara, mas não me lembrei quem ele é. Roubei a sacola de crack de um matuto novo lá da boca. Roubei achando que ele era o manda chuva, e não apenas mais um pau mandado de um homem poderoso.
Minha decepção foi tão grande em imaginar passar o resto da vida sendo torturada por aquele homem de olhar frio e grito apavorante, que joguei meu corpo naquele colchão velho e comecei a chorar.
Chorei tanto que adormeci em meio aqueles lençóis sujos de sangue, suor, e lagrimas de uma cortesã.

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